domingo, 7 de março de 2010

CELAC PRECISA VENCER AS DIVERGÊNCIAS.

Chefes de estado e representantes diplomáticos de 32 países da América Latina e do Caribe anunciaram na última terça-feira a criação da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). A iniciativa é vista como uma possibilidade de integrar mais a região - inclusive com a aproximação do México, em geral mais próximo dos Estados Unidos -, amplificando a voz latina no cenário internacional, mas há dúvidas sobre a capacidade de a comunidade ganhar corpo, em meio às muitas divergências entre seus membros.
“Há um longo histórico de chefes de estados latino-americanos criando organizações que não funcionam”, lembra, em entrevista por telefone, o professor Riordan Roett, diretor do Programa de Estudos Latino-americanos da Universidade Johns Hopkins, em Washington. Apesar da ressalva, Roett diz que essa ação pode ter um papel positivo em temas como mudança climática ou comércio internacional, por exemplo.
As autoridades reunidas estabeleceram um grupo de trabalho, encarregado de delinear melhor o que será a Celac. Na reunião seguinte, em julho em 2011, em Caracas, deve ser definido seu estatuto e delineada sua organização. Marcelo Coutinho, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), analisa a iniciativa com bons olhos, mas ressalta que “o avanço precisa ser visto com realismo”.
Entre os problemas possíveis, segundo ele, está a possibilidade de haver uma concorrência com arranjos já existentes na região, como a Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba) ou a União de Nações Sul-Americanas (Unasul). Outra questão apontada por Coutinho é que a Celac não deve ser uma substituta da Organização dos Estados Americanos (OEA). Ele lembra que a OEA tem perdido muito peso, sobretudo na última década, sendo vista como uma entidade cara, burocrática e lenta, onde há “um fosso enorme entre os custos e os resultados efetivos”.
Coutinho prefere situar a Celac como um “desdobramento natural” do Grupo do Rio, criado em 1986, que é um mecanismo de consulta entre os governos, com reuniões periódicas. Dessa forma, a nova comunidade pode atuar mais no sentido de buscar “a concertação política, o diálogo entre os países, mínimos denominadores comuns e levar essas propostas em torno das quais há consenso para outros foros internacionais”.
O analista Peter Hakim, presidente do Diálogo Interamericano, centro de pesquisas apartidário sediado em Washington, elogia por telefone o esforço por uma América Latina “mais coordenada, transparente” no cenário mundial. “A grande questão é saber se há capacidade para superar essas fraturas e divisões”, diz. Mostra clara das tensões foram as frases pouco amigáveis trocadas entre o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e o colombiano, Álvaro Uribe. Posteriormente, os dois lados afirmaram concordar com uma mediação para a melhoria da relação bilateral, mas a dupla é um exemplo evidente, mas não único, do distanciamento de alguns líderes da Celac.
Como os outros analistas consultados, Hakim não acredita que a nova comunidade possa criar ruído nas relações com Washington. “A relação entre EUA e América Latina é baseada em interesses comuns, em vários setores. Ela deve continuar se aprofundando, apesar das discordâncias”, prevê.

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